Epicurismo e estoicismo
Ricardo Reis oferece-nos uma filosofia de
vida influenciada pelo epicurismo, pelo estoicismo e pelo “carpe
diem" ("aproveitai o dia") do poeta romano Horácio.
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A sua filosofia de vida é a de um epicurismo triste, pois defende o
prazer do momento, o "carpe diem",
como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos.
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O epicurismo consiste na filosofia moral de Epicuro (341-270 a. C.),
que defendia o prazer como caminho da
felicidade. Mas para que a satisfação dos desejos seja estável, sem
desprazer ou dor, é necessário um estado de ataraxia, ou seja, de tranquilidade
e sem qualquer perturbação.
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Apesar deste prazer que
procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade, ou seja,
a ataraxia (a tranquilidade sem qualquer perturbação). Sente que tem de
viver em conformidade com as leis do destino, indiferente à dor e ao desprazer,
numa verdadeira ilusão da felicidade, conseguida pelo esforço estóico
disciplinado.
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O estoicismo é uma corrente filosófica que considera ser possível encontrar
a felicidade desde que se viva em conformidade com as leis do destino que regem
o mundo, permanecendo indiferente aos males e às paixões, que são perturbações
da razão. O ideal ético é a apatia, que se define como ausência de paixão e
permite a liberdade, mesmo sendo escravo.
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Ricardo Reis é o poeta clássico, da
serenidade epicurista, que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a
fugacidade de todas as coisas.
Ricardo Reis é o heterónimo que projeta Pessoa para a antiguidade da Grécia
clássica. É o poeta das odes, o poeta que à semelhança de
Horácio, na Roma Antiga, se refugia na
aparente felicidade pagã que lhe vela e esbate o desespero.
Proclama uma sabedoria desenganada e surge
como a apologia da inteligência de Fernando Pessoa. Nas Páginas Íntimas diz ele: "Pus
em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental vestida de música que lhe é própria.”
É, no dizer de Gaspar Simões, através de Ricardo Reis que Fernando Pessoa se
aproxima de si mesmo. Em Ricardo Reis vê-se não só o mundo de angústias que
afecta Pessoa, mas a apatia, a desilusão perante o mistério da vida sem
soluções. Tudo é incerto, nada fica de nada, nada somos, tudo passa, tudo muda.
Classicismo
A nível formal,
a poesia de Ricardo Reis revela um estilo trabalhado, rigoroso e clássico. A
sintaxe clássica latina, frequentemente com a inversão da ordem lógica,
favorece o ritmo das suas ideias disciplinadas. A precisão verbal, os
latinismos, o uso de formas estróficas (a ode, o epigrama e a elegia) e
métricas (verso decassilábico) de influência clássica e o emprego de arcaísmos vocabulares
são marcas do classicismo erudito de Reis.
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